A obra de Mira Schendel se destaca por sua forma original de conjugar leveza, energia, sensibilidade e uma forte motivação intelectual. Dificilmente alinhada a qualquer corrente da arte moderna, sua obra ultrapassa os debates artísticos de seu tempo. Schendel produziu pintura, escultura, instalação, desenho, livros impressos ou feitos a mão, e foi também poeta e artista gráfica. A relação entre imagem e palavra, os limites da linguagem e da percepção, e a intimidade com a filosofia, em particular a fenomenologia, são temas fundamentais em sua carreira.
Nascida na Suíça, Schendel viveu na Itália durante a década de 1930, onde estudou filosofia, teologia e arte. A necessidade de fugir da perseguição nazista levou Schendel a viver em diversas cidades europeias, e em 1949 mudou-se para o Brasil, instalando-se inicialmente em Porto Alegre e depois em São Paulo. Na década de 1960, começou a criar séries nomeadas de acordo com o processo de trabalho adotado, nos quais destaca-se o distanciamento do domínio técnico tradicionalmente associado ao desenho e o rompimento de hierarquias como, por exemplo, entre a figura e o fundo, espaço vazio do papel, que passa a ganhar crescente autonomia em obras posteriores. Suas pesquisas materiais transbordaram então para o tridimensional. A artista também trabalhou com o acrílico, material que a permitiu explorar as qualidades da transparência e da leveza. O limite da expressividade liga-se ao interesse de Schendel pelo vazio e pelo silêncio, temas que atravessam toda a sua produção.
Sua obra foi destaque de diversas edições da Bienal de São Paulo (1951, 1955, 1963, 1965, 1967, 1969, 1981, 1989, 1994, 1998 e 2010) e desde a década de 1960 a artista expôs em instituições internacionais de prestígio, como a 34ª Bienal de Veneza, Itália (1968), e a Signals Gallery, Londres, Inglaterra (1966), local de intenso intercâmbio para artistas de vanguarda brasileiros e estrangeiros. Em 2013, foi realizada a individual de Schendel na Tate Modern, Londres, Inglaterra, apresentada em 2014 na Pinacoteca de São Paulo, Brasil. Em 2024, foi realizada uma retrospectiva de seu trabalho no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil. Sua obra integra acervos públicos e privados de grande influência internacional, entre eles o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Espanha; MoMa, Estados Unidos; Tate Modern, Inglaterra; e Museum of Fine Arts Houston, Estados Unidos; além de fazer parte das maiores coleções institucionais do Brasil, entre elas: Pinacoteca de São Paulo; MAM São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da USP – MAC USP; Itaú Cultural; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; entre outras.