


Anna Maria Maiolino
Sem título, da série Indícios, 2005
Linha de costura sobre papel
34,5 x 25,5 cm

Emmanuel Nassar
Chapa 163, 2012
Tinta sobre chapa metálica
90 x 90 cm

Rodrigo Andrade
Estrada para o litoral, 2020
Óleo sobre tela
80 x 110 cm
Foto: Filipe Berndt

Hélio Oiticica
Metaesquema, 1958
Guache sobre papel cartão
52 x 64 cm

Paulo Pasta
Sem título, 2021
Óleo sobre tela
170 x 130 cm
Foto: Filipe Berndt

Maya Weishof
Vênus e Marte, 2021
Óleo, giz pastel seco e giz pastel oleoso sobre tela
130 x 154 cm
Foto: Filipe Berndt
A Galeria Millan tem o prazer de apresentar o projeto Metonímia viva para participação na ArtRio 2021. Com uma seleção de cerca de 15 artistas, a operação central dos trabalhos dispostos na área expositiva está fundada nas diferentes construções da experiência a partir da metonímia. Ao criar sentidos pela contiguidade dos elementos, a relação metonímica atravessa estas produções através do deslocamento sensível de partes de campos semânticos específicos.
As séries Indícios, de Anna Maria Maiolino e Estojos, de Tunga, apresentam fragmentos ou resíduos de uma realidade anterior a que o objetos se referem. O emaranhado da costura de Maiolino subentende uma chave para um lugar que não está ali, e ainda assim o representa perfeitamente, como em um mapa. O mesmo ocorre com o cristais de rocha e ímãs de Tunga, que podem estar tanto na composição dos jardins como das paisagens e apresentam a entrada para esse outros ambientes como em um portal.
Em Makunaimî cria o espelho universal, de Jaider Esbell, este recurso se transfere à figuração, como uma ferramenta central para elaborar essa outra história, uma história a contrapelo. A cena retratada por Esbell é conhecida pelo artista, mas revela-se a quem não a conhece através de elementos marcantes, como a composição cromática de contrastes e o traçado que remete a padrões específicos.
O indício cromático está presente também em Maya Weishof, Emmanuel Nassar e Paulo Pasta, que constroem, na conjunção de cores determinadas, uma discussão interna. As referências ao vazio e ao cheio, ao claro e ao escuro e à percepção cromática perpassam as produções de Weishof, Pasta e Nassar, remetendo ao percurso argumentativo acerca da cor nos rumos da História da Arte. De maneira semelhante, Cumplicidade #20, de Túlio Pinto, remete ao mesmo percurso argumentativo; desta vez do lado da escultura e das discussões sobre o espaço e a matéria.
Em paralelo, a paisagens de Rodrigo Andrade e as composições fotográficas de Miguel Rio Branco são fragmentos daquilo que já se conhece, de uma realidade comum a todos. Tais fragmentos, entretanto, determinam que, ainda que remetam a um todo maior, são capazes de modificá-lo, à medida que existem autonomamente – em um câmbio entre a metonímia e a metáfora.
O recurso da metonímia está presente com muita ênfase nas produções dos artistas da geração brasileira de 70, ainda que tida como uma geração hermética, por ter-se encontrado diante de um silêncio imposto. A arte seria a última resistência quando nada mais parecia possível e encontrou no recurso metonímico uma de suas chaves. Artur Barrio e Ivens Machado falam dessa incomunicabilidade, da ameaça da doutrinação, das falhas do sistema que se crê eficiente e em perfeito funcionamento. Os transportáveis de Barrio o fazem ao usar materiais frágeis, que recusam a perenidade, pautando a descrença na permanência do objeto e sua canonização. Já o trabalho de Machado o faz ao se apropriar das falhas e refugos daquele mundo competente da precisão industrial, os “desvios da ordem”.
Em José Damasceno, o todo se refere a uma espécie de transubstanciação do objeto inicial: as cores dos gizes de cera são fragmentos de um objeto distante, um monitor de televisão. A conexão entre dois objetos distintos torna-se clara e faz emergir uma compreensão de que a relação do espectador com o jogo de indícios – o agrupamento de gizes – é capaz de encontrar um caminho alternativo.
Os meta-esquemas de Hélio Oiticica parecem, por fim, colocar em cheque a discussão da metonímia em um mesmo suporte, na medida que se constroem como uma série de múltiplas e diversas dissecações do espaço. Em Oiticica e seus meta-esquemas visualizamos a questão central: em que medida a pintura pode se organizar como indícios do tridimensional – ou vice versa? É, de alguma maneira, o trajeto natural da metonímia em plena atividade na arte, metonímia viva.