A energia criadora de Amilcar de Castro pulsava firme e forte no coração do artista. E esse acúmulo de pensamentos girando em sua mente precisava encontrar um escape, uma saída, um caminho para fora de si que trouxesse tranquilidade à alma. E Amilcar encontrou no desenho a ferramenta perfeita.
Discípulo de Guignard aprendeu logo cedo a importância da linha, “que separa e define os espaços” dizia. E desde sempre desenhava as suas ideias e pensamentos que depois poderiam ou não se transformar em esculturas, pinturas ou mesmo desenhos. Mas foi sempre a partir da linha, da observação do plano, que Amilcar partia para conquistar o espaço.
“A linha para mim tem uma importância fabulosa. E, de acordo com a organização dessa linha no espaço, pode ser escultura, pode ser desenho, mas é sempre a linha que é a estrutura da minha sensibilidade”
As esculturas de corte e dobra nascem de gestos simples de cortar e dobrar uma chapa plana, criando a obra no espaço. O corte define a forma. E a dobra, de pura sensibilidade do artista, vem e cria o vazio. O lugar da luz. E o que foi um desenho surge então como forma em movimento no espaço, onde a matéria dialoga com a luz. E percebe-se que o todo, a escultura pronta, está harmonicamente sustentada pelo movimento das linhas no espaço.
As esculturas de corte eliminam do fazer o gesto da dobra e partem para o uso de chapas mais espessas. Às vezes blocos únicos de aço apenas cortados, e às vezes vários blocos formando a peça através do movimento de deslocamento. E nessa experiência os cortes na chapa criam os espaços por onde caminha a luz, estampando claro as linhas desenhadas pelo artista.
Feituras diferentes de um mesmo pensamento. Pensamento amplo e rigoroso com a essência, onde não há espaço para subjetividades e adornos desnecessários. Pensamento sensível e poderoso que Amilcar de Castro conduziu ao longo da vida, sem desviar do caminho, criando o inusitado, o surpreendente e o genial domínio do espaço. Arte pura.