Amilcar de Castro integra o grupo de artistas neoconcretos e, como tal, realiza uma experiência que tem sua origem na estética concretista, que ele aprofunda. Daquela etapa de indagações e estudos, Amilcar reteve algumas características gerais e positivas: vontade de despojamento, de estruturas definidas, de expressão direta. Rejeitou, por outro lado, a noção por assim dizer quantitativa da forma, que se traduz na construção seriada, na composição de elementos adicionados uns aos outros. e se a rejeitou foi porque esse modo analítico de encarar a estrutura conduz a uma linguagem contraditoriamente intelectualista e óptica: dada a maneira exterior como a forma é concebida tem o artista de recorrer a efeitos visuais para lhe emprestar dinâmica. Amilcar desce a uma concepção anterior a forma para surpreendê-la em seu nascedouro e captá-la ao nascer. Consegue ele , com elementos aparentemente simples, – uma chapa retangular – revelar uma experiência dramática da forma, esse conflito da fora que quer nascer e estabelecer-se na comodidade de nosso perceber e da força que ao mesmo tempo que a solicita a contraria, do gesto que provoca a explosão e a detém. As esculturas de Amilcar querem explodir, e a explosão está latente no movimento virtual da placa que quer se desdobrar e se encolher, da superfície que, com uma força viva se ergue do chão e se imobiliza na véspera de um novo movimento jamais precipitado. Suas formas são monumentais sem serem retóricas, são pesadas sem possuírem massa, são dramáticas sem se valerem de qualquer figuração convencional de drama.
(In Módulo 22, abril, 1961)