A experiência do trabalho foi um dos eixos centrais da produção de Djanira Motta e Silva, opção que é delineada em meados dos anos 1950, e persiste até o final de sua trajetória nos anos 1970. Sua prática como artista está organizada em torno do compromisso social da arte, e informada por experiências da cultura popular brasileira. Com notável complexidade, a arte de Djanira percorreu temas como as manifestações festivas, religiosas e os divertimentos urbanos - que tangenciam o onírico - chegando ao seu ambicioso projeto de retratar trabalhadores rurais e operários, nos anos 1960 e 1970. Além de pinturas, também produziu desenhos, gravuras e murais.
Djanira foi uma artista engajada, o que se percebe não somente em declarações e posicionamentos políticos, mas em suas escolhas estéticas que destacam a vida coletiva. A partir dos anos 1950, passa a figurar personagens sem rosto, em composições de um rigor quase geométrico. Essa escolha singular traz a noção de coletividade para o primeiro plano de sua pintura - tomando distância das identidades particulares e isoladas - e com o passar dos anos torna-se marca da artista.
A formação de Djanira foi autodidata e seus interesses plásticos são marcados por sua origem na classe trabalhadora. De ascendência indígena por parte paterna e austríaca pelo lado materno, antes da carreira artística Djanira foi trabalhadora rural em lavouras de café e costureira. É reconhecida como integrante de uma segunda geração do modernismo brasileiro, grupo de artistas que compartilharam o interesse pelo cotidiano das classes trabalhadoras. Entre os pintores com quem manteve diálogo próximo no início de sua trajetória incluem-se José Pancetti e Milton Dacosta.
A artista incorpora um amplo repertório modernista, que inclui referências como o pós-impressionismo, o muralismo mexicano, e nos anos 1950, uma aproximação das tendências construtivas, sem, no entanto, jamais abandonar a arte figurativa. Em 1952, recebe o Prêmio de Viagem pelo País do 1° Salão Nacional de Arte Moderna, evento que terá desdobramentos importantes em sua pesquisa plástica. Nesse período a artista chega a manter um ateliê em Salvador, e conhece as cidades do Recôncavo Baiano. No contato com diferentes lugares e culturas, nas frequentes viagens pelo Brasil, buscava sempre a experiência direta e uma observação próxima dos diferentes contextos que retratava. A natureza viajante de Djanira teve consequências relevantes para sua produção, e pode ser compreendida como método de trabalho. Disso fornecem exemplos experiências bastante diversas como as obras baseadas na observação do Barroco mineiro, das matrizes religiosas africanas na Bahia, as pinturas resultantes da convivência com indígenas da etnia Canela no Maranhão, e o conjunto de telas produzidas durante sua longa estadia em Nova York, entre outras.
Ao longo da carreira realizou exposições individuais em Nova York, Washington e Boston e coletivas em cidades como Londres, Buenos Aires, Montevidéu, Edimburgo e Paris. Em 1977, o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) apresentou uma importante retrospectiva de sua trajetória. Recentemente, destaca-se a exposição Djanira: A memória de seu povo, no MASP, de 2019, que examinou o legado moderno de Djanira. Suas obras integram os acervos públicos do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio; Fundação Edson Queiroz, Fortaleza; Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP; Museu de Arte de Brasília; Instituto Casa Roberto Marinho, Rio de Janeiro; Itaú Cultural, São Paulo; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba; Itamaraty, Brasilia; Museus Castro Maya, Rio de Janeiro, entre outros.