Hélio Melo foi um artista plástico, compositor, músico e escritor nascido em Vila Antimari, Boca do Acre, no interior do estado do Amazonas. Trabalhou como seringueiro no Acre, emprego no qual realizava tarefas árduas que envolviam desde a extração até o transporte do produto das seringueiras. Em meio a esta aridez, Hélio Melo encontrou inspiração e referências para se tornar escritor, artista, compositor e músico, sempre autodidata. Foi também barbeiro, vigia e catraieiro, trabalhando na travessia de pessoas entre as margens do Rio Acre. A singularidade de sua obra está no retrato de experiências de vida compartilhadas por famílias de seringueiros, refletindo a situação mais ampla de milhões de brasileiros explorados, submetidos a séculos de negligência, conveniência ou opressão planejada pelo Estado. Em pinturas aparentemente despretensiosas, ele captura a destruição metódica da floresta enquanto defende alianças entre seus verdadeiros guardiões.
Em sua obra literária, narrou suas experiências, combinando um imaginário pessoal com aspectos peculiares da cultura amazônica, como lendas, histórias fantásticas e fatos reais, que resultaram em diversas cartilhas didáticas feitas com o intuito de preservar o conhecimento sobre a história da borracha na região e sobre a cultura amazônica em geral. Melo cursou até a terceira série do 1o grau, e aos oito anos já desenhava e pintava, como autodidata, utilizando o nanquim e tintas naturais que preparava a partir do sumo que extraia das plantas. Viveu sua infância e juventude nos seringais Floresta e Senápolis, e deixou o seringal aos 33 anos de idade.
O universo amazônico é personagem central de sua produção plástica, que traz inúmeras referências cifradas aos mitos, personagens e costumes da floresta aprendidos nos anos em que o artista viveu e trabalhou na mata. Em seus desenhos e pinturas, retrata o simbolismo do seringueiro, marcado pelo aprendizado com a natureza e com os povos indígenas. Interpreta o cotidiano percorrido pelo imaginário amazônico, destacando a dimensão simbólica dos conflitos sociais e ecológicos da região. Sua obra também está ligada a passagens da vida do artista e a fatos vivenciados ou presenciados por ele.
Em 2006, a obra de Hélio Melo ganhou uma sala especial na 27ª Bienal Internacional de São Paulo. Recentemente, integrou a Bienal das Amazônias, em Belém (2023) e a coletiva Histórias Brasileiras, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP (2022), além da individual Hélio Melo, apresentada na Almeida & Dale, em 2023. Consolidou-se como o artista mais destacado do Acre, e em sua homenagem o governo do Acre criou o Teatro Hélio Melo. Sua obra integra os acervos do Centre Georges Pompidou, em Paris; Pinacoteca do Estado de São Paulo; MASP; Museu de Arte do Rio – MAR; Museu Acreano de Belas Artes, entre outros.