Rubem Valentim começou a pintar ainda na infância e iniciou sua carreira artística profissional no final da década de 1940, quando participou de um movimento de renovação das artes na Bahia. Teve duas profissões: jornalista e dentista, que praticou até decidir se dedicar à arte. Sua formação multidisciplinar incluiu estudos em áreas como história da arte e ciências humanas em geral, cultura afro-brasileira e música popular. Nasceu e viveu boa parte de sua vida em Salvador, cidade com a maior população negra fora do continente africano, onde Valentim conviveu com a simbologia mágica das religiões afro-brasileiras, principalmente o Candomblé e a Umbanda, que desempenham papel central em seu universo simbólico.
Os instrumentos de culto, as estruturas físicas dos terreiros e a simbologia das entidades são representados em sua obra como signos, imagens estilizadas criadas através de uma sóbria estetização dessas figuras. Além do uso simbólico das cores relacionadas aos orixás, suas obras adotam formas geométricas como retângulos, círculos, triângulos e trapézios, formando emblemas que são dispostos em obras de suportes como pinturas, gravuras, relevos e esculturas. Ultrapassando o mero uso formalista de imagens religiosas, Valentim mantém a ligação destes emblemas com as suas origens, reforçando o vínculo com os significados que manifestam, como a proteção, a sexualidade, o nascimento, a morte, o renascimento, o ciclo da vida e da natureza.
Valentim viveu na Europa entre 1963 e 1966, após receber um prémio de viagem pela sua participação no 11º Salão Nacional de Arte Moderna. Sua primeira exposição individual fora do Brasil – primeira individual de um artista negro do Brasil fora do país - aconteceu em 1965, na sede da Embaixada do Brasil na Itália, o Palazzo Pamphilj, local onde se realizou, em 2022, a mostra individual Rubem Valentim: A Riscadura Brasileira. Também em 2022, foi organizada a mostra Ilê Funfun: uma homenagem ao centenário de Rubem Valentim, exibida na Almeida & Dale, no Museu Nacional da República em Brasília e no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. Sua obra foi tema de retrospectivas em instituições como o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP e Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras.
A qualidade e a relevância de sua obra foram amplamente reconhecidas durante e após sua vida, com sua participação em grandes exposições coletivas, como a Bienal de Veneza, em 1962; várias edições da Bienal Internacional de São Paulo, de 1955 aos anos 2020 - inclusive a 35ª edição, de 2023 - e o 1º Festival Mundial de Artes Negras, no Senegal, em 1966. Sua obra faz parte de importantes coleções institucionais no Brasil e no exterior, como Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand- MASP, Guggenheim Abu Dhabi, Museum of Modern Art - MoMA, Galeria Nazionale d'Arte Moderna di Roma, entre outras.