Ernesto de Fiori - Tensão e Harmonia
Curadoria: Denise Mattar
09.08 — 30.09.2016
Um panorama significativo da obra de Ernesto de Fiori (Roma, 1884 – São Paulo, 1945), artista admirado por seus pares e colecionadores, no Brasil e no mundo, mas ainda pouco conhecido do grande público, foi reunido na Almeida & Dale Galeria de Arte na mostra Ernesto de Fiori - Tensão e Harmonia, com curadoria de Denise Mattar.
A produção de De Fiori no Brasil compreendeu dois tempos distintos: o primeiro, no qual predominou a escultura, entre 1936 e 1939 e o segundo, de 1940 a 1945, em que ele reduziu essa atividade concentrando- se na pintura.
Apesar de nunca ter-se integrado de fato ao Brasil, onde viveu um período internamente conflituoso, o artista vivenciou transformações em sua obra ao longo dos nove anos em que esteve aqui. Em seus anos brasileiros, que ele pretendia que fossem passageiros e não seus anos finais de vida, observa-se a ascensão da pintura em sua obra e o uso de técnicas variadas, como pinceladas rápidas ou diluídas em solvente, uso de instrumentos dentados, e o retrato livre dos limites da esquematização, com maior fidelidade à forma humana, adquirindo certo vínculo expressionista que se soma à forte carga psicológica, observada também em suas esculturas.
A presença do artista em São Paulo ajuda também a abrir novos horizontes no ambiente artístico da cidade, marcando a produção de artistas ligados à Família Artística Paulista - FAP, como Mario Zanini (1907 - 1971) e Joaquim Figueira (1904 - 1943), e também o trabalho de Alfredo Volpi (1896 - 1988), principalmente em algumas de suas marinhas.
A exposição reuniu 22 esculturas, 25 óleos, 9 guaches e 12 desenhos. As esculturas cobrem o período de 1929 a 1945 apresentando obras realizadas ainda na Alemanha como Adam, Jungling e Barbara, de 1929; obras realizadas no Brasil como Homem Brasileiro, Maternidade e Mulher Reclinada, 1938, criados para o MES (Ministério da Educação e Saúde), e ainda bustos como o de Greta Garbo, de 1937, e de seu sobrinho Christian Heins (que viria a ser um dos primeiros pilotos brasileiros a concorrer internacionalmente) e seu Autorretrato, 1945. Entre os óleos e guaches, majoritariamente produzidos no Brasil, há três conjuntos de trabalhos: as Paisagens, nas quais retrata suas impressões da ainda acanhada cidade de São Paulo, e das regatas na represa de Santo Amaro, onde velejava. São Jorge e o dragão que são alegorias da luta entre o bem e o mal, fazendo referência à Guerra na Europa, e Galas nas quais retrata indivíduos isolados ou grupos, geralmente participando de acontecimentos em sociedade. Sua pintura nervosa e vibrátil, registra movimentos e tensões subjacentes a essas cenas, aparentemente mundanas, com um resultado de surpreendente contemporaneidade. Na mostra há ainda um conjunto de desenhos que explicita o seu processo de criação e alguns trabalhos caricaturando Hitler e o nazismo.
Se a harmonia, na música, é a soma de múltiplas tensões das notas musicais que compõem um todo uniforme e estético, na obra de Ernesto de Fiori (Roma, 1884 – São Paulo, 1945) são as tensões dos pincéis e das mãos, na composição da pintura e da escultura, que criam a harmonia, em uma obra marcada pela figura humana – sobretudo o feminino –, a vida mundana e as paisagens urbanas e naturais, com destaque para os barcos de velejo, esporte no qual o artista era campeão – inclusive no período em que viveu no Brasil, entre 1936 e 1945.