Ao longo de sua carreira Farnese de Andrade transitou por linguagens diversas, voltando-se principalmente à escultura e assemblage, mas também à pintura, ilustração e gravura. O artista nasceu em Araguari, uma pequena cidade do triângulo mineiro, e foi o sexto filho de oito irmãos. Sua infância é marcada pela trágica morte de dois de seus irmãos mais velhos, que Farnese não chegou a conhecer, mas que se faziam presentes em relatos e recordações da família. O artista vive a juventude em Belo Horizonte e em seguida, no Rio de Janeiro, onde busca tratamento para uma tuberculose. Ainda em Belo Horizonte, tem seu primeiro contato com a arte, ao estudar desenho na Escola Parque com Alberto da Veiga Guignard. Nas décadas de 1950 e 1960, conhece Ivan Serpa e outros artistas do concretismo, começa a expor em Salões, e participa da 6ª edição da Bienal de São Paulo (1961).
A obra de Farnese de Andrade é conhecida por formas singulares de coleta e ordenamento de objetos que fazem dele figura solitária entre seus contemporâneos, sobretudo no contexto artístico brasileiro. Trabalhando inicialmente com gravura, em meados da década de 1960 Farnese passa a produzir _assemblages _que partem de objetos inusitados como cabeças e corpos de bonecas, imagens sacras, ex-votos, fotografias, e todo tipo de artefatos encontrados ou comprados em antiquários. Ao sobrepor esses vestígios - marcados pelo tempo e pelo uso – agrega a eles resinas, redomas de vidro, lentes de aumento, mobiliários coloniais, armários, oratórios e relicários. A poética de Farnese de Andrade tem um sentido autobiográfico e se direciona a aspectos da psique e do inconsciente. Suas obras evocam uma indecifrável carga afetiva.
As primeiras leituras críticas sobre a arte de Farnese sempre enfatizaram a relação indissociável entre sua obra e a sua biografia. Nesse sentido, desperta a atenção o teor melancólico e o denso simbolismo dos objetos que o artista reúne e transforma. A acumulação de imagens que caracteriza o universo farnesiano se assemelha a uma colagem de memórias, que o artista reelabora obsessivamente no presente. Além disso, parte expressiva de suas assemblages permite perceber a união provocativa, e potencialmente perigosa, de religiosidade e erotismo, tal como observa o crítico Rodrigo Naves.
Apesar de não ter participado de escolas ou movimentos, sua produção tem uma contribuição fundamental para a história da arte brasileira, encontrando eco em uma nova geração de artistas contemporâneos, dos anos 1980 e 1990. Obras de Farnese de Andrade integram coleções públicas brasileiras relevantes como as da Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM Rio, Museu Nacional de Belas Artes, e coleções internacionais em instituições prestigiadas, entre elas: The Museum of Modern Art - MoMA, Nova York, EUA; Institute of Contemporary Arts, Londres, Reino Unido e Essex Collection of Art from Latin America, University of Essex, Reino Unido.