A obra de Lygia Clark é considerada múltipla, complexa e desafiadora. Sua carreira singular abarca transformações cruciais na arte da segunda metade do século XX. Além de ter sido uma das pioneiras no desenvolvimento da abstração geométrica no Brasil, que daria origem ao movimento Neoconcreto, Clark demonstrou desde o início de sua prática uma preocupação com a pintura enquanto objeto e com a relação entre esta e o espaço real.
Clark demonstrou interesse no desenho desde a infância, e sua formação se inicia no final da década de 1940, quando estuda pintura com Roberto Burle Marx. No início da década de 1950 instala-se em Paris, estuda pintura a óleo sob orientação de Árpád Szenes e Fernand Léger, e apresenta sua primeira individual na capital francesa em 1952. De volta ao Brasil, Clark embarca em um intenso diálogo com a geração de artistas que se aproximavam da abstração geométrica. Nesse período, Clark participa de exposições com o Grupo Frente, além de expor na Bienal de Veneza (1954) e em diversas edições da Bienal Internacional de São Paulo.
A celebrada série Planos em superfície modulada ilustra o desenvolvimento da ideia de linha orgânica. Concebida pela artista a partir da observação de linhas funcionais usadas para modular e articular superfícies em objetos cotidianos - a linha entre a porta e a parede, as linhas em tecidos costurados ou o espaço entre as tábuas do assoalho - a linha orgânica consiste em um elemento que estrutura a imagem por meio de uma articulação de polaridades: claro/escuro, positivo/negativo, interno/externo. Nesses estudos, Clark experimentou várias possibilidades de modulação do espaço com o uso da colagem. Esses trabalhos em papel foram concebidos como projetos para suas pinturas, geralmente feitas com tinta industrial que ela aplicava com uma pistola de spray sobre madeira.
Na virada das décadas de 1950 e 1960, Clark deu os passos que a levariam a uma investigação radical dos limites entre objeto de arte e espaço, e entre a obra e o espectador. Gradativamente, seu interesse se volta para a tridimensionalidade. Com Casulo, cria relevos que saem dos quadros e confecciona esculturas e objetos com materiais industriais, como os Trepantes. Seu próximo passo é romper a separação entre os objetos artísticos e o público. Lygia cria Bichos, estruturas móveis feitas com chapas de metal e dobradiças que devem ser manipuladas pelas pessoas. A partir daí, sua produção se alicerça na ideia de que o artista é um propositor de situações. Ela passa a propor happenings e performances que exigem a participação do público, como O Eu e o Tu: Série Roupa-Corpo-Roupa (1967) ou instalações imersivas, de forte carga psicológica e simbólica, como A Casa É o Corpo: Labirinto (1968).
Na última década, a obra de Clark tem sido tema de retrospectivas em instituições internacionais como o MoMA e o Guggenheim, em um processo de crescente valorização de sua trajetória, que acompanha a inclusão de suas obras em grandes coleções, entre elas: Tate; MoMA, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Centre Pompidou e Colección Patricia Phelps de Cisneros. Sua obra integra os acervos das principais instituições brasileiras, entre elas a Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Instituto Inhotim, entre outras.