Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, e chegou ao Brasil já adulta, em 1936, depois de uma viagem de 45 dias no mar. Inicialmente, veio para visitar o irmão, mas acabou permanecendo no país e fixando residência em São Paulo. Já casada e mãe de dois filhos, começou a pintar aos 40 anos de idade, tendo o universo doméstico como referência. No início, produziu algumas paisagens, e a partir de 1954 começou a pesquisar a pintura abstrata informal, deixando de lado o estágio anterior de sua obra. Ao longo de uma carreira extensa, produziu pinturas, aquarelas, desenhos, gravuras e esculturas, além de grandes obras públicas. Seus trabalhos remetem à leveza e à precisão técnica da arte japonesa, com pinceladas leves, sóbrios jogos cromáticos e composições equilibradas. A estética oriental também se expressa na importância de espaços vazios, na escolha de poucos elementos visuais e na ausência de ornamento.
Apesar da grande influência internacional da pintura da Escola de Paris na década de 1950, e da aproximação de muitos artistas nipo-brasileiros com a abstração gestual, Tomie nunca se filiou a nenhuma corrente artística. Soube construir uma obra marcada por elementos simples e pela contínua retomada de temas, cores e composições ao longo de sua produção, o que confere forte identidade à sua obra. O que sempre importou em seu trabalho é a pintura como meio de representar um momento de reflexão. Sempre tratou a tela como objeto real, não como um simples suporte para imagens, mas como um campo de matérias e texturas, criando obras de grande qualidade física, de textura quase tátil, para tratar de temas intangíveis, como luz, equilíbrio, sombra e movimento. Sua pintura altamente evocativa e misteriosa indaga a atenção do observador, e geralmente dispensa títulos, já que Tomie pensava que as palavras seriam capazes de desviar o observador da contemplação da pintura.
Seu trabalho começa a chamar a atenção da crítica a partir de 1957, quando algumas de suas telas são expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1959, na ocasião de sua indicação ao Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, Ohtake já era considerada uma artista consagrada no meio da pintura em São Paulo, sobretudo pelo aspecto sereno e reservado de sua obra. A artista teve uma extensa carreira de participação em exposições coletivas, individuais, salões de arte, e recebeu diversos prêmios. Participou de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo (1961, 1963, 1967, 1975, 1996); Bienal de Veneza, 1972; integrou a histórica 1a Bienal de Havana, em Cuba, 1984; entre diversas outras bienais e grandes coletivas dentro e fora do Brasil.
Sua obra integra acervos de instituições como Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da USP – MAC USP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio; Instituto Itaú Cultural; Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, entre outras.