Heitor dos Prazeres foi um artista plástico, figurinista, compositor e sambista, reconhecido como figura fundamental do contexto cultural carioca no início no século XX. Nascido em 1898, durante o período do imediato pós-abolição, Heitor dos Prazeres tem sua produção atravessada pela cultura afro diaspórica e pela religiosidade de matriz africana. Vivenciou, ao mesmo tempo, trânsitos entre camadas sociais e experiências artísticas diversas.
Considerado um multiartista, Heitor soube percorrer diversas linguagens, e no auge de sua produção em pintura chegou a manter um ateliê em que contava com diversos assistentes, trabalhando em um esquema de oficina. Seu ofício foi, nesse sentido, uma prática compartilhada, mas a ele competia a elaboração das composições e as principais escolhas dos gestos, bem como o detalhamento das figuras representadas.
Prazeres foi um autodidata, e sua inserção no ambiente artístico carioca foi a princípio pela via da música. Nasceu em uma família profundamente ligada a essa expressão, seu pai era clarinetista e seu tio Hilário Jovino Ferreira foi um dos integrantes da primeira geração do samba urbano. Desde jovem, convive com músicos como Donga, João da Baiana, Sinhô, Caninha, Pixinguinha e Paulo da Portela que frequentavam a casa de suas tias, Ciata e Esther. Na década de 1930, forma o Grupo Carioca e torna-se ritmista da Rádio Nacional e do Cassino da Urca. Suas canções e composições mais populares foram: Cantar para Não Chorar, com Paulo Portela; Carioca Boêmio, Consideração, composta em parceria com Cartola e Pierrot Apaixonado, com Noel Rosa.
Na segunda metade dos anos 1930, passa a se dedicar também à pintura, tratando de temas relacionados às tradições e à cultura popular brasileira e cenas do cotidiano das populações negras da cidade. O samba, o carnaval, as paisagens urbanas e brincadeiras infantis foram seus temas mais frequentes, além disso, enfocou de modo consistente as tradições religiosas do candomblé e da umbanda.
As pinturas de Heitor dos Prazeres demonstram sua atenção aos detalhes, a observação sagaz de seu contexto cultural, e a propensão do artista a dedicar-se a minúcias e sutilezas. Isso se expressa, por exemplo, na qualidade pictórica das roupas, chapéus, jóias e outros adornos de seus personagens, representados com notável habilidade e detalhamento. Estes elementos contribuíram para atribuir grande dignidade aos retratados – em um contexto de intensa hostilidade social. Chega a retratar-se em diversas obras, e parte de seus personagens foram figuras de seu convívio, muito respeitados na região entre a Cidade Nova e o Cais do Porto do Rio de Janeiro, espaço conhecido como a “Pequena África”. O próprio Heitor do Prazeres, contribui, de forma decisiva para tornar essa região conhecida como um dos espaços mais efervescentes da criatividade afro-diaspórica.
Suas primeiras telas foram produzidas em 1937. Em 1951, ganha o terceiro lugar na premiação para artistas nacionais na 1a Bienal Internacional de São Paulo, com a pintura Moenda, que atualmente integra o acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP. Ganha uma sala especial na 2a Bienal Internacional de São Paulo em 1953, e participa das edições de 1961 e 1979. Em 1966, participa do Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, em Dakar, Senegal. Cria cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Em 1999, é realizada uma mostra retrospectiva de seu trabalho no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), em homenagem ao seu centenário. Em 2023, uma grande retrospectiva de sua obra foi apresentada no CCBB do Rio de Janeiro. Ao longo de sua carreira artística realizou seis exposições individuais e mais de 30 mostras coletivas.