Sidney Amaral | Almeida & Dale

Sidney Amaral

São Paulo - São Paulo, 1973
São Paulo - São Paulo, 2017

Nascido em São Paulo em 1973, Sidney Amaral inicialmente se dedicou a produzir esculturas que representam objetos do cotidiano forjados em materiais nobres, como mármore e bronze, deslocados de seus contextos originais e ressignificados poeticamente pela oposição entre banalidade e delicadeza, simplicidade e nobreza, efemeridade e permanência. A série Balões em Suspensão (Suspended Balloons), de 2009, por exemplo, cria tensões entre a leveza das figuras e o peso do material, entre o delicado polimento das superfícies dos balões e a grosseira corrente de motosserra que os sustenta.

O universo temático da obra pictórica de Amaral é quase diametralmente oposto a essa leveza poética, mergulhando em uma realidade dura e lidando com questões sociais, históricas e políticas que dizem respeito ao lugar do negro na sociedade brasileira. São desenhos, aquarelas e obras em acrílica de caráter realista em que ele revela extremo domínio técnico no uso de composições cromáticas, linhas, volume e iluminação.

A autorrepresentação é constante na obra de Sidney Amaral. Ao se tornar o centro de muitas de suas pinturas e aquarelas, ele não apenas atesta sua experiência como indivíduo, mas traz à tona sua identidade como homem negro, pai, marido e professor de escola pública, lidando com as privações e angústias de um grupo historicamente marginalizado que até hoje é alvo de preconceito e opressão no Brasil. "Vejo minha obra sempre como um espelho que ao ser olhado por muito tempo nos lembra dessas metamorfoses do mundo, do meu querer estar no mundo e encontrar este meu lugar. Sou um ser que estou deslocado todo o ", diz Amaral. Ao escolher colocar sua própria imagem - a imagem de seu corpo - como o campo em que essas questões são tensionadas e friccionadas, ele revela o peso que a história - e o que quer que seja historicamente construído - exerce sobre os indivíduos em suas vidas cotidianas.

O diálogo de sua obra com a história do Brasil e as construções da imagem do negro nesse contexto também fica evidente na escolha da litografia e da aquarela como suas principais técnicas, bem como no realismo pictórico de seus traços. Esses materiais e características remetem aos registros visuais que revelavam a vida e as condições dos escravizados feitos por artistas viajantes como Eckhout (1610 - 1665) e Debret (1768 - 1848) no Brasil. Amaral atualiza essa iconografia ao se colocar, como homem negro, no lugar do observador e do observado, agora dando voz ao sujeito oprimido. A referência a esses registros históricos aparece, por exemplo, na aquarela Gargalheira, Quem Fala por Nós? (2014), em que a Gargalheira, instrumento de tortura usado durante a escravidão no Brasil, se funde e se adapta à opressão social midiatizada dos dias atuais. A imagem, forte e poderosa, lida ao mesmo tempo com a invisibilidade e a superexposição do homem negro que, mesmo cercado e violentamente amarrado aos microfones, assume um silêncio altivo de negação do sistema. A obra de Amaral relembra e denuncia os recentes e ainda opressivos desdobramentos do período escravocrata brasileiro e as feridas que ele abriu na constituição da identidade negra no país.

Sidney Amaral faleceu em maio de 2017, aos 44 anos. Apesar da força e da notoriedade de seu trabalho, ele nunca conseguiu se sustentar financeiramente apenas com sua produção; lecionava educação artística em uma escola pública. "Ser artista eu acho que já é difícil, ser um artista negro no Brasil é ainda um pouco mais complicado", declarou em uma entrevista no site Nobrasil.

Sua obra ainda resiste, instigando-nos a pensar sobre o Brasil e suas mazelas. Em uma cultura em que, nos últimos tempos históricos, o negro foi representado apenas como força de trabalho, submetido e humilhado como escravizado e, posteriormente, de forma folclórica ou pejorativa, uma produção como a de Sidney do Amaral, que retrata o negro como indivíduo mobilizado contra uma determinação opressora, é fundamental para entender e rever a história recente do Brasil.

Amaral formou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em 1998. Também estudou pintura acadêmica e fotografia no Museu Brasileiro da Escultura, onde foi aluno de Ana Maria Tavares. Participou de exposições na Bienal de Valência (2007), no Museu de Arte Moderna da Bahia, durante os 30 anos do Itaú Cultural, além de outras coletivas e individuais no Museu Afro Brasil, MASP e Instituto Tomie Ohtake. Seu trabalho está presente em importantes coleções públicas, incluindo o Museu Afro Brasil; o Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP; e o Museu de Arte Contemporânea da USP - MAC USP.

Complacência, 2014

resina e pó de mármore
25 x 13 x 16 cm

O grito, 2015

guache e óleo sobre papel
107 x 79 cm
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