A produção de José Leonilson está concentrada principalmente nos dez últimos anos de sua vida, período em que criou um corpo numeroso e consistente de obras. Seus trabalhos abrangem pintura, desenho, ilustração, bordado, instalação e escultura. Em um exercício de síntese, a cada nova fase, Leonilson restringiu deliberadamente seu universo de signos. Elaborou um vocabulário próprio, em que aspectos amorosos e eróticos tiveram centralidade. Leituras recentes de sua produção têm destacado o sentido não apenas afetivo e íntimo, mas igualmente político das opções estéticas de Leonilson.
Artista ceareanse, que construiu sua carreira em São Paulo, José Leonilson é considerado um dos principais nomes da Geração 80, grupo de artistas vinculado ao retorno à pintura e aproximação de uma linguagem expressiva, gestual e pop. Marcadas por gestos vigorosos e cores intensas, as primeiras obras de Leonilson instigaram leituras sobre a conexão com a transvanguarda italiana. Entre suas influências mais significativas estão a produção de Antonio Dias, o graffiti de Keith Haring e as aquarelas de Paul Klee. Sua produção pictórica inicial, desenvolvida entre 1983 e 1988, é caracteriza por uma busca do “prazer de pintar”, que se combina à liberdade do gesto. O suporte privilegiado é a lona, sem chassi, em trabalhos de grande formato.
No fim da década de 80, ele começa a trilhar um percurso que o conduz a escolhas estéticas muito distintas dessa primeira fase de sua produção. Destaca-se seu trabalho com palavras e cartografias do corpo, dispondo de um universo complexo de referências e símbolos gráficos. Entre as imagens elaboradas sistematicamente incluem-se o átomo, a torre, o coração, a escada, o livro aberto, a montanha, o vulcão, a espiral, e outras que são sobrepostos pelo artista, como o fogo e água, a bússola e o relógio, a ampulheta e o símbolo matemático do infinito.
A produção madura de Leonilson reflete sobre os tênues limites entre o que pode ser dito e o que é da ordem do incomunicável, elaborando um diário ao mesmo tempo particular e aberto. Segundo Lisette Lagnado “Leonilson foi movido pela compulsão de registrar sua interioridade a fim de dedicá-la aos objetos de desejo”.
A partir de 1989 sua obra assume um tom ainda mais íntimo e delicado. Nesse momento, o artista investe em novos procedimentos, recorrendo às costuras e bordados. O caráter pessoal e autobiográfico se intensifica nos trabalhos criados a partir de 1991, ano em que ele descobre viver com o virus HIV. Com desdobramentos diretos em sua linguagem poética, a descoberta da doença impulsiona Leonilson a elaborar novas formas metafóricas de expressar a própria experiência. O formato geralmente diminuto das obras desse período acentua o sentido íntimo e singelo que move Leonilson a se expressar.
Frequentemente os trabalhos de Leonilson são metonímias do corpo do artista, e enfrentam os perigos da exposição ao olhar do outro. É comum também que jogue com referências que confundem o espectador sobre o teor verídico ou ficcional de seus trabalhos. Segundo Adriano Pedrosa “Cada vocábulo do vasto e rico léxico do Leo luta ferozmente contra a dicionarização”.
Obras de José Leonilson integram o acervo de inúmeras coleções públicas, no Brasil e exterior, entre elas: Centre Georges Pompidou, Paris; Tate Modern, Londres; Museu Serralves, Portugal; Museo Nacional de Bellas Artes, Buenos Aires; Museum of Modern Art, MoMa, Nova York; Städtische Galerie; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo; Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro; Instituto Inhotim, Brumadinho; Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte de Brasília; entre outras.