Além de escultor e escritor, Mestre Didi foi um importante pesquisador e líder religioso, e realizou trabalhos de grande relevância para os estudos sobre a arte sacra ligada às religiões Afro-Brasileiras. Toda a sua obra está ligada ao universo Nagô, povo de origem Iorubana. Suas esculturas, feitas predominantemente com materiais orgânicos, palha, madeira, metal, bambu, búzios e contas, são herdeiras da arte tradicional do povo Iorubá e dos objetos litúrgicos, bem como das representações simbólicas de entidades do culto aos ancestrais. Elementos da cultura visual iorubá, como pássaros, cobras, lanças e chamas são retrabalhados pelo autor em peças que evocam a ancestralidade, as entidades e as narrativas da religião deste povo africano.
Nasceu em Salvador em 1917, filho do alfaiate Arsenio dos Santos, conhecido como “Paizinho”, e de Maria Bibiana do Espírito Santo, “Mãe Senhora”, ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. Mestre Didi foi iniciado no culto de Egungun, que representa os ancestrais masculinos da tradição Oyó. Desde cedo, se interessava pelas origens e estudos sobre os rituais do Candomblé, tendo aprendido também a lingua Iorubá. Ele fez parte do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá até sua viagem à África ocidental, quando visitou o reino de Ketu (que inclui territórios de Nigéria, Benim e Togo) e recebeu o título de Alapini, sumo-sacerdote do culto a Egungun, fundando em seguida o terreiro Ilê Asipá.
Publicou seu primeiro dicionário de Iorubá-português em 1946, que levou à criação do departamento de estudo da língua Iorubá na Universidade Federal da Bahia em 1960. Em 1961, publicou a coletânea de contos populares ancestrais africanos intitulada Contos Negros da Bahia, livro com ilustrações de Carybé. Ao longo da década, publicou diversos outros livros. Em 1964, apresentou sua primeira exposição de esculturas na Galeria Ralf, em Salvador, e a exposição Emblemas de Orixá, na galeria Bonino, no Rio de Janeiro.
Ao longo de sua trajetória, Mestre Didi realizou diversas exposições individuais, além de ter participado de exposições de grande relevância histórica, como a 1a Bienal de Artes Plásticas realizada no Convento do Carmo, em Salvador, em 1966; Exposição Internacional de Arte Afro-Brasileira, apresentada na Nigéria, em Gana e Senegal; A Mão Afro-Brasileira, realizada no MAM de São Paulo, em 1988; Mostra do Redescobrimento: Brasil + 500, na Fundação Bienal de São Paulo (2000), além de grandes coletivas internacionais, como Arte na América Latina, na Hayward Gallery, Londres, 1989; Magiciens de la Terre, realizada no Centre Pompidou em Paris no mesmo ano, e Brazil: Body and Soul, no Guggenheim, Nova York (2002). A obra de Mestre Didi integra importantes coleções no Brasil, como o Museu Afro Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM RJ, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, entre outras.