Paisagens Temporais: Perspectivas em Evolução

A exposição Paisagens Temporais: Perspectivas em Evolução estabelece um diálogo entre gerações de artistas, cujo trabalho representa a transformação constante da natureza e as incertezas que definem nosso ambiente ecológico atual. Por meio das instalações de Marlene Almeida e uma seleção de obras do acervo da coleção Almeida & Dale, incluindo Tomie Ohtake, Farnese de Andrade, Eleonore Koch, Djanira, Ione Saldanha, Leonilson, Joseca Yanomami e Vivian Caccuri, revela-se uma continuidade delicada, mas significativa, entre diferentes territórios, tempos e práticas artísticas. O tecido visual não só documenta as mutações ambientais, como também, por intermédio das propostas artísticas, nos convida a repensar as ecologias que surgem como resposta à crise global, tanto em suas dimensões materiais quanto simbólicas.

Em um momento marcado pelo colapso ambiental e a urgente necessidade de uma transição energética, as obras aqui apresentadas transcendem seu papel de testemunha da deterioração causada pelos séculos de extrativismo. Muito além de indicar uma problemática, erguem-se como plataformas a partir das quais são propostas formas alternativas de imaginar e habitar o mundo.

O compromisso de Marlene Almeida, eixo central desta exposição, com o uso de materiais locais e sustentáveis, profundamente ancorado em uma prática que privilegia os recursos que respeitam o meio ambiente, destaca uma reflexão crítica sobre as formas como nossas cadeias de produção e consumo têm impacto, tanto local quanto globalmente. Este enfoque questiona a relação extrativa que mantivemos com o planeta e propõe um caminho para práticas regenerativas, que convidam a imaginar outras formas de convivência.

Assim como sugere a filósofa Isabelle Stengers, em seu Manifesto for Slow Science, é essencial desacelerar e estarmos abertos a formas de conhecimento inclusivas, não hegemônicas e coletivas, que repensem a separação entre cultura e natureza, promovendo uma consciência ecológica profunda. A exposição responde a este chamado e oferece um espaço no qual se entrelaçam diversas narrativas estéticas, ecológicas e culturais, todas elas comprometidas com a busca por novas formas de resistência e regeneração diante das crises contemporâneas. Assim, a arte se converte em um espaço vital para reconsiderar nossa relação com o mundo natural, não só como testemunha passiva, mas também como ferramenta ativa para imaginar futuros viáveis.

Ao conectar o local com o global, Paisagens Temporais nos convida a propor outra escala e a dimensão das decisões que tomamos em torno da transição energética. As obras que integram a mostra podem articular e gerar possibilidades de ação coletiva e criativa para a regeneração ambiental, estimulando aos espectadores a imaginarem formas de vida mais sustentáveis e justas.