Viewing Room - Rubem Valentim na ARCOmadrid 2024 | Almeida & Dale
Rubem Valentim na ARCOmadrid 2024
Rubem Valentim em seu ateliê

Para a ARCOmadrid 2024, a Almeida & Dale tem a honra de apresentar a geometria sagrada de Rubem Valentim em um notável conjunto de pinturas, esculturas, serigrafias e relevos que demonstram a riqueza visual e poética de sua produção. Erudito e profundamente espiritualizado, Valentim (Salvador, BA, 1922 − São Paulo, SP, 1991) conduziu sua carreira artística por uma via de introspecção. Intimamente ligada à sua vida interior, sua arte traduz plasticamente as raízes culturais negras do Brasil, em particular o rico imaginário das religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, de maneira original e inventiva.

Emblema-84, 1984
Rubem Valentim
Emblema-84, 1984
acrílica sobre tela
50 x 70 cm
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Emblema-78, 1978
Rubem Valentim
Emblema-78, 1978
acrílica sobre tela
73 x 100 cm
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Relêvo Emblema-79, 1979
Rubem Valentim
Relêvo Emblema-79, 1979
acrílica sobre madeira
50 x 70 x 7 cm
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“No Brasil, o baiano Rubem Valentim é o artista que exemplifica mais eloquentemente os fluxos e refluxos entre as culturas africanas, brasileiras e europeias, combinado de maneira antropofágica a tradição construtiva, com as referências ao universo religioso afro-brasileiro”.

Adriano Pedrosa e Tomás Toledo. Catálogo "Histórias Afro-Atlânticas", MASP, 2018

Emblema-85, 1985
Rubem Valentim
Emblema-85, 1985
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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Emblema-84, 1984
Rubem Valentim
Emblema-84, 1984
acrílica sobre tela
27 x 41 cm
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As obras reunidas para a ARCOmadrid 2024 revelam a presença constante de um repertório de formas ao qual o artista recorria frequentemente para construir emblemas que funcionam como equações. Elas conjugam formas geométricas básicas − triângulos, retângulos, círculos, trapézios − e figuras criadas a partir de uma sóbria transformação de imagens e signos do candomblé, como o oxê, machado duplo de Xangô − que se tornou uma marcante em sua obra como um todo, o tridente de Exu, o cajado de Oxalá, chamado opaxorô, e outros elementos da tradição iorubá.

Emblema-1986, 1986
Rubem Valentim
Emblema-1986, 1986
acrílica sobre papel
70 x 50 cm
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Emblema 85, 1985
Rubem Valentim
Emblema 85, 1985
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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Emblema 85, 1985
Rubem Valentim
Emblema 85, 1985
acrílica sobre tela
41 x 33 cm
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Emblema-85, 1985
Rubem Valentim
Emblema-85, 1985
acrílica sobre tela
41 x 27 cm
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“A trajetória do obá Rubem Valentim, obsessivamente dedicada aos orixás, é uma das aventuras mais fiéis a um tema na arte brasileira”.

Paulo Herkenhoff. “A pedra de raio de Rubem Valentim, obá-pintor de casa de Mãe Senhora”, catálogo da 23ª Bienal de São Paulo, 1996 (leia o artigo aqui)

Sem título, s.d.
Rubem Valentim
Sem título, s.d.
madeira
50 x 50 x 30 cm
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Os relevos e esculturas reunidos para a ARCOmadrid 2024 são exemplares da constante renovação da obra de Valentim que acompanhou seus deslocamentos geográficos e a ampliação de seu repertório visual. Após sua vivência em Brasília, Valentim respondeu ao estímulo espacial exercido pelo desenho urbano da nova capital produzindo obras que ocupam o espaço de outra maneira e, com sua presença carregada de sacralidade, funcionam como altares.

Conjunto Altar Sacral Emblemático - E59, 1980
Rubem Valentim
Conjunto Altar Sacral Emblemático - E59, 1980
madeira
71 x 24 x 24 cm
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Escultura II, 1978
Rubem Valentim
Escultura II, 1978
acrílica sobre madeira
54 x 38 x 38 cm
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As esculturas de composições totêmicas, estruturas em madeira que poderiam ser exibidas individualmente ou em conjunto, representam uma fase de Valentim em que ele explora a ideia de monumentalidade.

Objeto místico, 1972
Rubem Valentim
Objeto místico, 1972
madeira policromada
26 x 21 x 7 cm
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“Minha arte tem um sentido monumental intrínseco. Vem do rito, da festa. Busca as raízes e poderia reencontrá-las no espaço, como uma espécie de ressocialização da arte, pertencente ao povo. É a mesma monumentalidade dos totens, ponto de referência de toda a tribo. Meus relevos e objetos pedem fundamentalmente o espaço. Gostaria de integrá-los em espaços urbanísticos, arquitetônicos, paisagísticos.”

Rubem Valentim. “Manifesto ainda que tardio”, 1976 (leia o texto aqui)

Objeto Emblemático 1, 1975
Rubem Valentim
Objeto Emblemático 1, 1975
madeira policromada
198 x 109 x 77 cm
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Vista de obra de Rubem Valentim durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível. Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Exposições e coleções
A potência descolonizadora e antropofágica

A qualidade e a relevância das obras de Rubem Valentim foram amplamente reconhecidas durante sua vida, com sua participação em grandes exposições coletivas, como a Bienal de Veneza, em 1962; várias edições da Bienal de São Paulo, de 1955 a 2023, e o 1º Festival Mundial de Artes Negras, no Senegal, em 1966.

Público diante do "Painel emblemático", de Rubem Valentim, em sala especial dedicada ao artista na 23ª Bienal de São Paulo, 1996. Os relevos projetados para o prédio do Ministério de Relações Exteriores em Brasília foram recompostos e instalados temporariamente no Pavilhão da Bienal.

Sua obra faz parte de importantes coleções institucionais no Brasil e no exterior, como Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC-USP, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand- MASP, Guggenheim Abu Dhabi, Museum of Modern Art - MoMA, Galleria Nazionale d'Arte Moderna di Roma, Colección Patrícia Phelps de Cisneros, Centre Pompidou, Tate, Minneapolis Institute of Art, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, entre outras.

Exposição "A Estética do Candomblé", MAC-USP, São Paulo, 1989. Acervo Instituto Rubem Valentim. Foto: Rubens Fernandes

Vista da exposição "Rubem Valentim: Construções Afro-Atlânticas", MASP, 2018-2019

Dentre as mostras recentes que celebram o artista e o apresentaram ao público contemporâneo, destaca-se "Rubem Valentim: Construções afro‐atlânticas", 2018-2019, no MASP, que abarcou sua produção desde 1955, quando, ainda em Salvador, Valentim assumiu decididamente suas referências do candomblé e da cultura afro‐brasileira, até 1978.

Obras de Rubem Valentim no "Acervo em transformação do MASP" (dir. e esq.)

Após a mostra, duas de suas obras foram acrescentadas ao "Acervo em Transformação do MASP", no segundo andar do museu, que relacionada as obras mais importantes da coleção por meio da expografia marcante de Lina Bo Bardi.

“Valentim é um dos artistas que, de maneira mais completa e ambiciosa, levou a cabo o projeto antropofágico. Nesse processo, ele realizou uma das mais radicais operações na história da arte brasileira, submetendo um idioma europeu a uma linguagem afro‐brasileira, numa contribuição efetivamente singular e potente, descolonizadora e antropofágica”.

Fernando Oliva. Catálogo de "Rubem Valentim: Construções afro‐atlânticas", MASP, 2018

Emblema-86, 1986
Rubem Valentim
Emblema-86, 1986
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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Emblema-87, 1987
Rubem Valentim
Emblema-87, 1987
acrílica sobre tela
70 x 50 cm
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Emblema 88, 1988
Rubem Valentim
Emblema 88, 1988
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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Enfatizando o reconhecimento internacional de Valentim, a obra "Emblema 70 n.2", 1970 passou a integrar a exposição de longa duração "A View from São Paulo: Abstraction and Society" na Tate Modern, em Londres, desde 2022. (veja a obra aqui)

Emblema-70, nº2
Rubem Valentim
Emblema-70, nº2
acrílica sobre tela
121 x 73 cm
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Em 2022, também foi realizada a exposição "Ilê Funfun: Uma homenagem ao centenário de Rubem Valentim", na Almeida & Dale. (veja a exposição aqui)

Trailer de "Ilê Funfun: Uma homenagem ao centenário de Rubem Valentim"

Com curadoria de Daniel Rangel, ela reuniu o essencial da trajetória de Valentim: um potente conjunto artístico-sagrado e referências de seu universo particular, juntando ainda as coleções do Museu de Arte Moderna da Bahia, do Instituto Rubem Valentim, cuja sede está em São Paulo, e do Museu de Arte de Brasília; locais que foram suas casas, espaços que foram seus ilês.

Vistas do núcleo "Templo de Oxalá", da exposição "Ilê Funfun", na Almeida & Dale, 2022

Ilê significa casa e terreiro, o templo sagrado de culto aos orixás, e Funfun, a cor branca, uma referência àqueles que se vestem de branco, sobretudo da família de Oxalufã, o Oxalá velho, e Oxaguiã, o Oxalá moço. “Em verdade, somos todos filhos de Oxalá, encarregado por Olódùmarè para criar todos os seres vivos do planeta, incluindo plantas, animais, homens e mulheres”, explicou o curador Daniel Rangel.

A retrospectiva foi apresentada em três núcleos: o “Templo de Oxalá”, um conjunto de obras com 20 esculturas e 10 relevos, consideradas o ápice de seu trabalho; “Ateliê”, onde processo criativo do artista foi desvelado, trazendo telas inacabadas que estavam em produção quando de sua morte em 1991, e ferramentas que ele usava; e “Cronologia”, que retomava sua história a partir de recortes, pesquisas, documentos e arquivos pessoais, fotografias e cartazes.

Vistas do núcleo "Cronologia", da exposição "Ilê Funfun", na Almeida & Dale, 2022

Vistas do núcleo "Ateliê", da exposição "Ilê Funfun", na Almeida & Dale, 2022

Após sua exibição na Almeida & Dale, a mostra seguiu para o Museu Nacional da República em Brasília, retornando em seguida ao MAM-BA, para a reinauguração da sala especial de Rubem Valentim no museu. Também comemorando o artista, cuja produção e trajetória é umas das mais consistentes e influentes da arte brasileira do século 20, a Almeida & Dale patrocinou o restauro do conjunto de esculturas e relevos que compõem a obra Templo de Oxalá, pertencente à coleção do MAM Bahia. O conjunto foi doado ao museu pela família do artista em 1997, no mesmo período da construção do Parque de Esculturas, onde se encontra a Sala Rubem Valentim.

Vista de obra de Rubem Valentim durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível. Foto: Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Essa obra monumental foi exibida parcialmente e pela primeira vez em 1977, na 14ª Bienal de São Paulo, e apresentada em sua totalidade na 35ª Bienal de São Paulo, em 2023, edição histórica marcada pela grande representação de artistas afro-diaspóricos.

Rubem Valentim em seu ateliê. Foto: Silvestre Silva
Trajetória do artista
Projeção e pesquisa visual

Artista autodidata, Valentim se interessou por pintura desde jovem e ganhou destaque no final da década de 1940, período em que participou de um movimento de renovação artística na Bahia. Como muitos de sua geração, Valentim acolheu a forte onda da abstração geométrica que se instalou na arte brasileira na década de 1950, mas conduziu sua obra por um caminho oposto à matriz europeia.

Composição nº3, 1958
Rubem Valentim
Composição nº3, 1958
acrílica sobre tela
55 x 38 cm
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“Depois de ver Cézanne, Kandinsky, Klee, Van Gogh, que eu gostava muito, vi os artistas nacionais: Lívio Abramo, Bonadei, Djanira; ela apareceu lá na Bahia com uma exposição e eu adorei aquilo”.

Rubem Valentim. Catálogo "Rubem Valentim", MAM Bahia, 2011 (veja o catálogo aqui)

Imerso no ambiente cultural de Salvador − cidade com a maior população negra fora do continente africano − Valentim trabalhou com a iconografia do candomblé, os instrumentos de culto e a simbologia dos orixás, que transformou em uma linguagem visual revisitada ao longo de toda a sua carreira.

Estúdio do artista em São Paulo, 1989-92. Acervo do Centro de Pesquisa do MASP

O processo de construção de sua pesquisa visual e simbólica pode ser vislumbrado em seus cadernos de estudo e diários. Esse rico patrimônio foi doado recentemente pelo Instituto Rubem Valentim para o Centro de Pesquisa do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Contendo manuscritos, datiloscritos, cartas, fotos e desenhos, o material é constituído por mais de 10.000 itens.

Cadernos pessoais de Rubem Valentim, c. 1960-61 (esq.) e 1958 (dir.) Foto: Laurent Sozzani (veja o conteúdo aqui)

Páginas dos cadernos do artista. Fundo Rubem Valentim, Acervo do Centro de Pesquisa do MASP

Sem título, 1987
Rubem Valentim
Sem título, 1987
serigrafia sobre papel
70,2 x 100,0 cm
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Sem título, 1987
Rubem Valentim
Sem título, 1987
serigrafia sobre papel
70,4 x 99,9 cm
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“Com o peso da Bahia sobre mim − a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias − o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo − a contemporaneidade; criando seus signos-símbolos, procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui continuamente dentro de mim”.

Rubem Valentim. “Manifesto ainda que tardio”, 1976 (leia o texto aqui)

Forma Emblemática para Objeto - XI (Poema Visual), 1984
Rubem Valentim
Forma Emblemática para Objeto - XI (Poema Visual), 1984
colagem sobre papel cartão
31 x 23 cm
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Emblema-83, 1983
Rubem Valentim
Emblema-83, 1983
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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Sem título, 1968
Rubem Valentim
Sem título, 1968
guache sobre cartão
34,7 x 25,0 cm
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Rubem Valentim em seu ateliê em Roma, Itália, 1965. Coleção do Centro de Pesquisa do MASP

Valentim viveu no Rio de Janeiro entre 1957 e 1963, onde se tornou professor assistente de Carlos Cavalcanti, lecionando História da Arte no Instituto de Belas Artes. Ele se mudou para Roma em 1963, quando ganhou um prêmio de viagem, obtido no Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM).

Diante do apoio da crítica italiana, de Enrico Crispolti e Palma Bucarelli – diretora da Galeria Nacional de Arte Moderna de Roma, que promoveu a aquisição de uma obra para o acervo da instituição – e com o acompanhamento de Giulio Carlo Argan, então presidente da Associação Internacional dos Críticos de Arte – Valentim conheceu a repercussão de sua obra no exterior.

Emblema V, da série XII Bienal de São Paulo, 1973
Rubem Valentim
Emblema V, da série XII Bienal de São Paulo, 1973
acrílica sobre tela
120 x 73 cm
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Vista de mostra "A Riscadura Brasileira", Palazzo Pamphilj, Roma, Itália, 2022

Em abril de 1966, a convite do Ministério de Relações Exteriores, o artista participou do "I Festival Mundial de Artes Negras", em Dacar, no Senegal. Momento importante na integração afro-diaspórica, o evento marcou a recém independência do Senegal, e foi projetado para mostrar as produções da arte negra de todo o mundo que empregavam estéticas baseadas nos princípios da Negritude. Em Dakar, ele viu seu trabalho exibido junto ao de artistas negros de toda a África e da diáspora africana pela primeira vez em sua vida.

Em Dacar, Valentim apresentou o conjunto de doze pinturas realizadas em Roma e, juntamente com Heitor dos Prazeres e Agnaldo dos Santos, representou o Brasil entre outras personalidades como músicos, intérpretes, mestres capoeiristas e a respeitada ialorixá Olga do Alaketu, mãe de santo do terreiro de candomblé Ilê Maroiá Láji.

Rubem Valentim (ao fundo, à esq.), Heitor dos Prazeres, Pedro Moacir Maia e Clarival do Prado Valladares, no I Festival Mundial de Artes Negras em Dacar, 1966 – Acervo Instituto Rubem Valentim

Lucia Valentim, esposa do artista, em frente ao "Painel Novacap", em Brasília, em 1975

Rubem Valentim viveu e trabalhou em Brasília entre 1966 e 1991. Sua vinda a então recém-inaugurada capital deveu-se ao convite que recebeu para dar aulas de pintura em um dos ateliês livres do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), onde trabalhou por dois anos. Em Brasília, Valentim consolidou sua pesquisa técnica e poética voltada à geometria construtiva e à simbologia de herança cultural africana. Sua passagem pela cidade é indelével e foi aqui também que aprofundou a vertente tridimensional de seu trabalho, motivado pela amplitude dos espaços arquitetônicos.

“Cabe reconhecer um plano ambicioso que consistiu em negociar uma dupla nacionalidade: ser moderno sem deixar de ser afro-brasileiro, ser brasileiro sem abandonar a negritude”.

Lisette Lagnado. “O retorno e a confirmação de Rubem Valentim”, 2018 (leia o texto aqui)

Na capital federal está a primeira obra pública de Valentim, um mural de mármore inaugurado em 1972 para a fachada do edifício-sede da Novacap, atual prédio da Secretaria de Estado de Economia do Governo do Distrito Federal. Em 1978-79, Valentim projetou outra obra pública, que definiu como a "Marco sincrético da cultura afro-brasileira". A escultura maciça de concreto foi instalada na Praça da Sé, no centro da cidade de São Paulo.

Ouça ao podcast produzido pelo Centro Cultural São Paulo com trechos da entrevista que a pesquisadora Maria Olimpia Vassão realizou com Rubem Valentim em 1979, quando o artista projetou e instalou uma grande escultura pública na Praça da Sé, em São Paulo (à direita, Instalação de Marco sincrético da cultura afro-brasileira na Praça da Sé, 1979

Instalação de "Marco sincrético da cultura afro-brasileira" na Praça da Sé, 1979. Foto: Silvestre Silva

Estúdio do artista em São Paulo, 1989-92, Acervo do Centro de Pesquisa do MASP. Foto: Silvestre Silva
Sobre a produção
Uma poética visual brasileira

Ultrapassando o mero uso formalista de imagens religiosas, Valentim mantém a ligação destes emblemas com as suas origens, reforçando o vínculo com os significados que manifestam, como a proteção, a sexualidade, o nascimento, a morte, o renascimento, o ciclo da vida e da natureza. A simbologia dos planos vertical e horizontal, ligados, respectivamente, ao divino e ao humano, assim como o uso das cores relacionadas aos orixás, também são elementos centrais de sua obra.

Emblema II, 1987
Rubem Valentim
Emblema II, 1987
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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Emblema-78, 1978
Rubem Valentim
Emblema-78, 1978
acrílica sobre tela
101 x 74 cm
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“Intuindo o meu caminho entre o popular e o erudito, a fonte e o refinamento − e depois de haver feito algumas composições, já bastante disciplinadas, com ex-votos, passei a ver nos instrumentos simbólicos, nas ferramentas do candomblé, nos abebês, nos paxorôs, nos oxés, um tipo de 'fala', uma poética visual brasileira, capaz de configurar e sintetizar adequadamente todo o núcleo de meu interesse como artista. O que eu queria e continuo querendo é estabelecer um 'design' (que chamo Riscadura Brasileira), uma estrutura apta a revelar nossa realidade”.

Rubem Valentim, "Manifesto ainda que tardio", 1977 (leia o texto aqui)

Ateliê do artista em São Paulo, 1989-92, Acervo do Centro de Pesquisa do MASP. Foto: Silvestre Silva

A criação de um espaço de vibração espiritual é um ato que fundamenta também as obras da série "Emblemágicos", que surgiram a partir do fascínio de Valentim pelos pontos riscados da umbanda, religião que conheceu quando viveu no Rio de Janeiro.

Emblemágico-84, 1984
Rubem Valentim
Emblemágico-84, 1984
acrílica sobre tela
50 x 70 cm
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“A alusão constante aos símbolos de Exú e Xangô, na Umbanda e no Candomblé, deidades da comunicação e da justiça, respectivamente, sugere que vemos a obrae de Valentim como um manifesto público pela igualdade social, ressaltando assim sua dimensão política”.

Roberto Conduru. “Albeit Late, But on the Eve – Rubem Valentim and Time”, 2018

Interessado na criação de uma linguagem fundamentalmente brasileira, não nacionalista, mas que sintetizasse toda as nuances dessa identidade, Valentim manteve um olhar aberto ao universal e fez de sua obra uma investigação constante do mundo e de seu lugar nele. Buscou estudar as práticas sagradas e a cultura da américa indígena e de diversas civilizações não-ocidentais. Reunidas nessa seleção de obras, as construções de Valentim renovam a velha união da arte com o intangível e o sagrado em todas as suas formas.

“Considerações sobre os temas do espaço, da futuridade e da defesa da igualdade negra em relação às obras plásticas do artista e seu Manifesto ainda que tardio (1976), revelam que Valentim demonstrou certas características e preocupações afrofuturistas muito antes da formalização do conceito”.

Kimberly Cleveland. “Rubem Valentim: expressão Proto-Afrofuturista", 2021 (leia o artigo aqui)

Emblema 86, 1986
Rubem Valentim
Emblema 86, 1986
acrílica sobre tela
41 x 27 cm
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Emblema 89/90, 1989/1990
Rubem Valentim
Emblema 89/90, 1989/1990
acrílica sobre tela
50 x 35 cm
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“A Arte Brasileira só poderá ser um produto poético autêntico quando resultado de sincretismos, de acumulações sígnicas (semiótica/semiologia não verbal) das culturas formadoras da nossa nacionalidade com a contribuição das culturas mais recentes trazidas pelos diferentes povos de outras nações e que, aqui nesse espaço Brasil-Continente comum a todos, se misturam criando um sistema de brasilidade cultural de caráter singular, de rito, mito e ritmo que sejam inconfundíveis apesar da famigerada Aldeia-Global. O fundamental é assumir a nossa identidade de povo em termos de Nação”.

Rubem Valentim. “Manifesto ainda que tardio”, 1976 (leia o texto aqui)

Sem título, 1991
Rubem Valentim
Sem título, 1991
acrílica sobre tela
35 x 50 cm
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Almeida & Dale
Rua Caconde, 152
São Paulo - SP
01425-010

Segunda a sexta: 10h – 18h
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